O segredo da investigação é o método.

"O segredo da investigação é o método"

Esta é uma afirmação feita por José Rodrigues dos Santos, jornalista, escritor e professor universitário, em entrevista dada, esta semana à revista Notícias Sábado.


E prossegue: " quando estamos a fazer uma investigação, muitas vezes estamos à procura de alguma coisa. No acto de procurar uma coisa encontramos outra. Eu sou a única pessoa que pode avaliar se essa coisa é pertinente."


As etapas de um processo de investigação, podem conduzir-nos a caminhos diferentes daqueles que tinhamos antecipado e levar-nos até a reavaliar todo o processo desenvolvido até ali.

As etapas de um processo de investigação por vezes, sobrepõe-se umas às outras, misturam-se, fluidificam-se e obrigam-nos a rever posições.



segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reflexão Pessoal Sobre as Potencialidades e os Desafios dos Recursos educativos abertos

Este post beneficiou da leitura dos posts dos colegas, já publicados e evidentemente de todos os recursos disponibilizados amavelmente pelo professor José Mota, para além de algumas deambulações próprias.

O livro dos recursos educativos abertos da wikieducator afirma que (tradução nossa)“…os REA são apenas uma parte das mudanças que se estão a processar rapidamente na educação aberta”.

De uma maneira geral, as mudanças na educação, quer seja considerada aberta ou não, passam sempre por mudanças no papel dos professores; Andy Hargreaves (1998) comenta essas mudanças salientando as grandes alterações no papel dos professores ao longo dos últimos anos, nomeadamente a nível da natureza e exigência das tarefas. Do mesmo modo que Hargreaves, nos questionamos se as mudanças que têm vindo a acontecer, estão a contribuir para melhorar ou piorar o ensino.

Parece-nos óbvio que, no que diz respeito aos professores, a mudança representa sempre um esforço acrescido de atualização e também no que toca aos recursos educativos abertos isso se passa, não sendo só ganhos a contabilizar, embora, indiscutivelmente eles existam.

É de facto maravilhoso que possamos aceder, sem grandes constrangimentos, a recursos educativos usando-os e reusando, adaptando-os se necessário e possível, de modo a tornar a nossa prática letiva, mais apelativa para os nossos alunos. Será igualmente maravilhoso como aluna, poder encontrar informação do meu interesse, usa-la, combina-la, remistura-la como entender, de acordo, é claro, com as normas do licenciamento estabelecido. Contudo, será que todas estas vantagens são realmente aproveitadas para melhorar o ensino aprendizagem e os estudantes tiram verdadeiro proveito delas, alargando horizontes, ampliando conceitos, partilhando experiências, de modo a aumentar os seus conhecimentos? Estamos em crer que sim pois estas facilidades mesmo sem serem usadas por todos, já fazem parte da vida de uma grande maioria, inovando e trazendo alterações significativas, a modos de fazer, pré estabelecidos.

Downes é de opinião que “ Supporting OERs is not simply about supporting the production of open educational resources, it's about integrating these into the metabolism of the organization” Familiarizarmo-nos com os REA ao ponto de os usarmos, criarmos, reutilizarmos de forma repetida, até fazerem parte integrante dos nossos hábitos quotidianos, até que exclusivamente pela sua utilização sistemática se empreguem novas formas de ensinar e aprender e se transformem definitivamente as práticas educativas! Em nosso entender, o autor está apenas a usar uma regra básica de senso comum: como é que aprendemos alguma coisa e nos tornamos peritos nela? Pela repetição! Como exemplo, podemos todos pensar sobre como é que aprendemos a andar de patins ou de bicicleta.

As potencialidades dos REA são indissociáveis das suas características as quais são tão variadas quanto a diversidade de recursos educativos abertos que existem: software, podcasts, vídeos, imagens, etc..

Para Stephen Downes: “The purpose of an open educational resource is not merely to transfer information, it is to stimulate this creative production in the recipient. Teachers and educational leaders should regard themselves not merely as passive transferers of received content to students, but instead as agents provocateurs.”Surge corroborado aqui, aquilo que já foi acima dito, sobre a mudança do papel do professor; espera-se que ele aja como agente provocador e que estimule a criatividade dos estudantes, mas o autor vai mais longe, preconizando para os estudantes também uma alteração de papeis; uma que os faça criar os recursos pelos quais desejam aprender, tomando a dianteira do seu percurso de aprendizagem. Na realidade Downes advoga que estudantes e professores devem eles próprios produzir os seus recursos educativos abertos, delineando a educação que desejam e simultaneamente oferecendo-a aos outros. Desta maneira não haveria necessidade de preocupações com a sustentabilidade dos REA nem de estarem entregues maioritariamente às universidades! Porém, perguntamo-nos sobre se os interessados terão, a todo o momento, suficiente visão para selecionar o “melhor” tipo de educação e caso a resposta se prove afirmativa, o que faremos com, por exemplo, os designers instrucionais, os teóricos da educação e principalmente os políticos que tanto gostam de definir as linhas gerais da educação? Sem fazer muita futurologia, adivinhamos mais desemprego! Além disso, isto extingue a possibilidade de criar recursos educativos abertos ideais, exposta por David Wiley, pois aumenta a probabilidade de opiniões divergentes, dado que todos os intervenientes são consumidores e produtores, apesar de ele mesmo, considerar que o significado do termo é tão amplo quanto a diversidade que caracteriza os REA.

Por sua vez, o livro de bolso dos recursos educativos, relativamente aos desafios que se colocam, chama a atenção para a questão da sustentabilidade a qual configura uma situação que julgamos relacionar-se com os incentivos para criar, usar, reusar e adaptar os REA: para criar recursos educativos de qualidade impõe-se que existam recursos tecnológicos adequados e competências científicas e técnicas apropriadas e aí, o papel das universidades e instituições educativas aparece como crucial. Não significa isto que não haja espaço para se criar REA individualmente, apenas os meios poderão ser mais escassos e os resultados menos bons e para quem utiliza ou até adapta, a qualidade é algo decididamente a considerar. Outro aspeto relevante para a sustentabilidade dos REA, de acordo com a mesma fonte, é o financiamento, pois até à data, a informação disponibilizada, aponta para que os custos de criação e manutenção, estejam a ser suportados por fundações ou instituições universitárias que têm interesses subjacentes, por exemplo, na promoção da sua imagem e dos seus académicos. Encontrar formas de financiar a criação e manutenção de repositórios é um contributo importante para a vida dos REA.

Em resumo, a questão da vida dos recursos educativos abertos e/ou dos repositórios de recursos educativos abertos não é fácil de equacionar devido a toda e sua extensão e dimensões que abarca. Estão em causa coisas tão importantes como os seus efeitos no desenvolvimento e avanço da sociedade, a qualidade, a fiabilidade, quem os produz, como e com que recursos, onde se alojam, como estão licenciados, etc..


Referências:

Gurell, Seth (autor) & Wiley, David (editor) (2008). OER Handbook for Educators 1.0. [http://wikieducator.org/OER_Handbook/educator_version_one]
Hargreaves, A. (1998) Os professores em Tempos de Mudança. Alfragide: McGraw_Hill
Downes, Stephen (10-2010). Agents Provocateurs. Stephen's Web. [http://www.downes.ca/post/54026] Wiley, David (27-09-2011).
 On OER – Beyond Definitions. Iterating toward openness. [http://opencontent.org/blog/archives/2015].